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BARCELONA






Para os Catalães a capital de uma comunidade autônoma que deveria controlar sua própria economia.
Para os místicos parte da região do chakra coração do mundo, cidade
transmutadora de energia.
Para os turistas a cidade das curvas de Gaudí, das ousadias de Dalí, dos passeios
pelas Ramblas.
Para nós uma cidade onde sua força catalã nos oferecia condições para
desenvolvermos nosso próprio trabalho, que entre o mar e a montanha nos
conduzia pelos fluxos das transformações, que sob modernistas e monumentos nos instigava a criar a nossa própria paisagem.

Um momento de descobertas, a Cia cresceu não por levar seu nome ao público por meio de apresentações e aulas mas sim pela experiência com uma nova técnica, em quatro semanas de teatro físico nos introduzimos a pedagogia de Jaques Lecoq. Pessoas incríveis, estudantes, diretores, amigos e mestres. A estrutura de um método, tempo, precisão, jogo e palavra. A fala ofereceu novo movimento ao corpo, o corpo ganhou uma nova voz. Num país latino não era só pelas palavras que nos identificávamos, mas foi através delas que nos aproximamos  de uma nova cultura e  maneira de dialogar.
Incorporamos em nossa pesquisa a busca pela palavra que surge do movimento. E surge então novamente a comunicacão com nosso país. Que palavras seriam essas de nosso corpo híbrido que une passos do Valentão do Cavalo Marinho, ao do capoeirista mandingueiro e do astuto passista de frevo? 
Há em nós um sentimento mutuo de indignação e instigação ao nos dar conta de quantas  técnicas, métodos e pedagogias poderiam ser desenvolvidas a partir do que temos de tão particular e pouco explorado em nosso país. Por que se escuta tanto de Commedia dell' Arte e não se fala nada de Cavalo Marinho nas escolas de teatro tão aplaudidas do nosso Brasil? 

Cada contato com uma técnica bem elaborada da Europa nos relembra carências e anseios de nossa cultura, quem sabe o ímpeto de independência catalã nos inspire a desejar o que é nosso, quem sabe o chakra coração do mundo pulse tão forte que reverbere nosso anseio pelos trupés de Cavalo Marinho, quem sabe os tantos turistas que das Ramblas se vão ao nosso terrero de Maracatu nos faça apreciar o nosso solo.

Quem sabe quanto ainda é necessário que se grite um Brasil que por hora é delicadamente sussurrado a cada um que se aproxima com interesse desse universo...

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