A primeira apresentação da aula espetáculo Do Papo ao Passo na Italia se deu entre i
taliano e espanhol traduzido. E tudo entendido... Mas de todas as palavras uma delas não tinha equivalente que traduzisse o seu sentido maior: brincadeira. E por consequência: brincante. Assim como já tinha nos alertado Johan Huizinga em seu livro Homo Ludens, muitas línguas tem a palavra "jogar" que serve para designar tantas coisas inclusive o estar em cena, mas são poucas que tem a relíquia do "brincar".
Tentamos então dançar e traçar exemplos que levassem a imaginação italiana a uma imagem de brincante.
Alguns dias antes tínhamos prometido a nossa querida Vita, ragazza que tão cuidadosamente nos recebeu, alimentou, e carregou de um canto ao outro, que faríamos um doce muito gostoso: brigadeiro!
E foi ai que a babel começou...
De repente, na imaginação italiano brincante virou brigadeiro, equivalente aos brigantes que nos tempos de unificação da Italia eram a resisência do sul que fazia frente aos piemonteses que desciam do norte para transformar a Italia na bota que hoje conhecemos. Depois de tantas risadas esclarecemos a confusão das palavras mas acabamos achando lógica nos sentidos. A brincadeira hoje não deixa de ser uma resistência. Frente ao tempo, frente ao cotidiano. Huizinga nos ensinou e sempre terminamos o Do Papo ao Passo dizendo que as brincadeiras e os brincantes nos são referência de uma estética sim, mas do que eles nos servem de maior referência é quanto a sua maneira de relacionar com o mundo. Uma maneira que exige uma inteireza para aprender o que existe fora de si mas conhecendo muito bem o que se tem dentro para poder transformar e devolver ao mundo de uma nova maneira, mais criativa, mais inteira.
Incrível foi descobrirmos na Italia que talvez a melhor tradução para o brincante seja algo entre o doce e o resistente.
Nenhum comentário:
Postar um comentário