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13 É NÚMERO DA SORTE



Passando pelo místico ano de 2012 entramos no assombroso 13. Para não dar sorte ao azar decidimos nos esconder da melhor maneira possível:  se movimentando o máximo possível. A começar pelo curto e ágil processo de construção do novo espetáculo, para viabiliza-lo percorremos velozmente os infinitos canais internálticos do youtube e por meio do vídeo do Catarse chegamos a novas pessoas e contamos com o empurrão de muitas delas. Nesse embalo erguemos “A Última Estrada” e por ela fomos parar do outro lado do oceano. Preparadas pelos caminhos do Circuito Sesc de Artes as praças europeias nos solicitaram não só os macetes ensinados pelos companheiros circenses como uma enorme maleabilidade e esperteza. A cara de pau, ou melhor o carisma das velhas nos renderam no chapéu algumas moedas de Euros... Mas não foi esse nosso maior lucro, o chão das praças torceram nossos pés mas também nos calejaram, ganhamos uma prontidão que nos deu a sensação de estarmos prontas pra qualquer coisa.

 Após a corrida por Portugal, Itália e França chegamos de volta ao Brasil e ainda sem cruzar a linha de chegada permanecemos na maratona para cumprir com recompensas prometidas aos colaboradores do Catarse. Finalizamos o espetáculo, fizemos o cd da trilha, realizamos a apresentação e demos a festa. Ufa. 

O ano não acabou mas nós nos acabamos. O quinto aniversário da Cia provou a idade com seus piques e imprudências, excesso de energia de quem ainda está chegando ao mundo mas já sabe falar, que venham as aventuras, os desafios, companheirismo e sem dúvida o descanso!
E é pra lá que vamos um pouquinho, desfrutar do famoso sono dos justos...

De fato nossa estratégia funcionou, por poucas vezes o azar nos pegou e a sorte sempre esteve por perto, foi ela que nos aproximou de tantas e tantas pessoas queridas esse ano. Obrigada a todos que estiveram por perto, mesmo que por um curto período de tempo pois ele provavelmente foi o nosso mais longo... 
Feliz 2014 !

CIA SOMA







FRANÇA - SAÍDA À FRANCESA

Com um delicado chute o país da bota nos laçou ao país das luzes. Termas, lago, museus e parque de diversões fecharam com muito carinho nossos últimos dias de Itália. E tão pouco a França ficou para trás, Aix-en-Provence nos recebeu com toda a sua elegância. Após a diversidade de lugares e situações em que nos apresentamos ao longo da viagem, fechamos o ciclo no bonito teatro de arena da Cite du Livre. Camarim, luzes e acentos se tornaram um luxo para nós...
Tão especial quanto a apresentação e a oficina que realizamos foi o encontro com artistas brasileiros. Nos identificamos não só pelo olhar 'a arte como pelo olhar ao mundo, a esse belo contraste entre o despojado e o polido.

Durante a apresentação que seria a última da nossa turnê contamos ao público sobre nossa pequena epopéia que então completava exatos dois meses. Contamos que ai longo desse período dançamos nos mais variados espaços e contextos o que exigiu de nós a agilidade de elaborar o roteiro da apresentação ali mesmo, poucos minutos antes de começar. E naquela ocasião não foi diferente, ao chegarmos em Aix formulamos um roteiro, no entanto vendo o show da noite anterior reformulamos tudo.

Como conclusão da jornada oferecemos ao público um pouco de tudo que havíamos feito até ali, o que acabou por se tornar uma retrospectiva da nossa pesquisa com a dança. Demonstramos inicialmente as danças tradicionais com seus passos em seus respectivos ritmos, em seguida um primeiro resultado coreográfico a partir da junção com outras técnicas de dança, e por fim um extenso improviso que, envolvendo já um aspecto teatral, era feito através dos personagens que cada uma desenvolveu para o novo espetáculo. Este último o mais instigante.

De volta ao trem, do trem ao metro, e no metro as inesquecíveis escadas subterrâneas de Paris... Finais de viagem sempre exigem mais força, seja por carregar o cansaço da jornada ou seja para carregar o peso a mais das malas que aqui e ali vão ganhando uns voluminhos. Mas há sempre pique para bater perna, Palácio de Versailles, Louvre, D'Orsay, Orangerie; e bater passos, realizamos duas oficinas a princípio encaradas com leve preguiça mas findadas com forte entusiasmo.

A despedida é silenciosa, discreta não pela preguiça dos comprimentos e sim pela certeza de que o reencontro não tardará, fica em nós o desejo de que toda essa jornada nos dê um belo chute que propicie o avanço do nosso trabalho no Brasil e que esse seja sempre bem iluminado.

ITÁLIA - UM SARCÓFAGO EM SARCONI




Ainda de carro continuamos a percorrer as estradas e suas incessantes curvas, o simpático Panda italiano parecia mais um elefante africano e nos levou, junto com toda a estrutura de acampamento, à praias paradisíacas e cidades de pedras ao sul da Itália. Por fim (que seria só o começo) chegamos ao nosso pouso em Sarconi. A partir de então quase todos os dias faríamos pequenas viagens à cidades próximas para nos apresentar e voltaríamos para dormir nessa casa. Seguindo a particularidade arquitetônica da região da Basilicata, este estranho lar parece ter sido diretamente cavado na pedra, no entanto a estrutura com suas portas e janelas originais de 1850 não justifica seu exotismo, a dona, uma figura única, é que se responsabiliza pela decoração que pelo mundo aprende e do mundo traz. Entre antiguidades, madeiras seculares e um amontoado de coisas a cidade ganhou dos brasileiros o apelido de sarcófago.

É evidente que nas viagens pela mundo adiquirimos experiências e lidamos com desafios que nos fazem crescer, no entanto as ocasiões e por onde está o crescimento nunca nos é evidente. Os lugares por onde nos apresentamos nos solicitam muito mais do que ganho aeróbico, elasticidade ou destreza de movimentos. Contextos inesperados nos fazem aprimorar o improviso, as situações inadequadas permitem exercitar a maleabilidade e os ambientes inóspitos rendem cara de pau. Cenários que exigem um estado de prontidão, referência tão valiosa oferecida pelas festas populares, o estar pronto a transformar, rir e se surpreender com as mais estranhas circunstâncias.

Uma delas foi um festival de danças folclóricas. Entre as delicadas tailandezas e os vigorosos malawis, lá estávamos nós mais uma vez deslocadas. Seja pela falta de um figurino típico ou pela sonoridade dos típicos ritmos que dançamos, nossas apresentações, feitas em eventos que dividem a dança entre dois gêneros, são sempre introduzidas por uma fala que ou justifica nossos passos tradicionais ou nosso caráter contemporâneo. Se é no meio do caminho onde o diabo mora é no inferno que por hora bailamos, a "dança folclórica" e a "dança contemporânea" delimitam regras que já não contemplam mais o nosso trabalho. Pouco importa gênero e cor, a mera reprodução de movimentos antigos pode ser tão desinteressante quanto a impessoalidade de um gesto criado naquele instante. Em contraposição, o entusiasmo de uma improvisação contemporânea pode deixá-la tão sedutora quanto uma coreografia tradicional feita com vitalidade. As tradicionais roupagens coloridas podem não esconder o prazer do dançarino, assim como o corpo híbrido pode transmitir a sensibilidade da criação atual.

Se a dança revela a cultura de um povo é o modo como o gesto, a respiração e o olhar reverberam no corpo que fará dela uma arte, Godard já nos alertou, "cultura é regra, arte é exceção", e se a vitalidade é condição humana façamos arte para fugir à regra e sejamos verdadeiramente vivos para não acabarmos mumificados em sarcófagos.

ITALIA - Entre Brincantes, Brigantes e Brigadeiros



Entre as tantas confusões propiciadas pela babel linguísitica deixada pelos nossos antepassados nunca seriamos capazes de imaginar a criatividade e as conexões que ela nos daria!

A primeira apresentação da aula espetáculo Do Papo ao Passo na Italia se deu entre i
taliano e espanhol traduzido. E tudo entendido... Mas de todas as palavras uma delas não tinha equivalente que traduzisse o seu sentido maior: brincadeira. E por consequência: brincante. Assim como já tinha nos alertado Johan Huizinga em seu livro Homo Ludens, muitas línguas tem a palavra "jogar" que serve para designar tantas coisas inclusive o estar em cena, mas são poucas que tem a relíquia do "brincar".

Tentamos então dançar e traçar exemplos que levassem a imaginação italiana a uma imagem de brincante.

Alguns dias antes tínhamos prometido a nossa querida Vita, ragazza que tão cuidadosamente nos recebeu, alimentou, e carregou de um canto ao outro, que faríamos um doce muito gostoso: brigadeiro!
E foi ai que a babel começou...
De repente, na imaginação italiano brincante virou brigadeiro, equivalente aos brigantes que nos tempos de unificação da Italia eram a resisência do sul que fazia frente aos piemonteses que desciam do norte para transformar a Italia na bota que hoje conhecemos. Depois de tantas risadas esclarecemos a confusão das palavras mas acabamos achando lógica nos sentidos. A brincadeira hoje não deixa de ser uma resistência. Frente ao tempo, frente ao cotidiano. Huizinga nos ensinou e sempre terminamos o Do Papo ao Passo dizendo que as brincadeiras e os brincantes nos são referência de uma estética sim, mas do que eles nos servem de maior referência é quanto a sua maneira de relacionar com o mundo. Uma maneira que exige uma inteireza para aprender o que existe fora de si mas conhecendo muito bem o que se tem dentro para poder transformar e devolver ao mundo de uma nova maneira, mais criativa, mais inteira.

Incrível foi descobrirmos na Italia que talvez a melhor tradução para o brincante seja algo entre o doce e o resistente.

PORTUGAL - Entre bacalhau e azulejos!



O princípio de nossas apresentações se deu em um lugar que carrega um pouco de suas origens. Portugal é não só a nação que nos deixou um vasto legado artístico como também de temperamento. No festival em que participávamos notamos isso tanto no modo como apreciavam nosso trabalho como na organização geral do evento, que nos levou a pensar que é também nossa reminiscência européia responsável pela nosso modo de ser dito "tupiniquim". 

Entre o calor, as íngremes ladeiras, azulejos, bacalhau e a lógica portuguesa, nosso espetáculo ganhou novo nome. Apresentado no Convento Corpus Chirsti o Do Papo ao Passo tornou-se Do Papa ao Passo! Tivemos também a oportunidade de fazer um ensaio geral do novo espetáculo em uma escola de arte. Árvore. O olhar despido de qualquer referência do que estaria por vir trouxe do público um retorno valioso. A importância em se fazer compreender uma história cedeu lugar ao cuidado em se manter fazendo o que acreditamos, pode parecer piegas mas pouco controlamos o que chega ao público, e fazendo o que para nós é vital algo de belo por ele é absorvido....

Coube também nessa estadia uma passeio à Santiago de Compostela, por onde peregrinamos em busca de um abrigo para passar uma noite. Muitas igrejas suntuosas e turistas peregrinos. Talvez o cansaço da viagem somada a admiração façam-nos esquecer que junto ao suor daqueles que chegam vitoriosamente até lá est´å o suor secular dos que, subordinados aos vitoriosos europeus, cederam riquezas e mão de obra para que tudo aquilo se erguesse.

Tamanha foi a hospitalidade e simpatia que fomos recebidas pelo norte de Portugal que junto ao calor e as novelas brasileiras, por vezes esquecíamos que a viagem à Europa já havia começado.

Levamos com nós a doçura do bom vinho do Porto e deixamos ao menos o pedacinho de uma história menos comum que as de nossas novelas....



NA ESTRADA

A Última Estrada nasceu na primeira empreitada da companhia pelo velho continente. Lá nasceu a idéia e o desejo, mas foi em casa que conseguimos abrir esse novo caminho.
A Última Estrada foi a primeira de novas parcerias que nos possibilitou imaginar e concretizar esse trajeto.
A Última Estrada é o que nos leva a Portugal, Itália e França onde vamos apresentando não só essa estrada, mas um tanto desses quatro anos de percurso da companhia.
A Última Estrada foi uma trilha aberta com a ajuda de amigos, conhecidos e desconhecidos que acreditaram na nossa doidice, não poderíamos deixar de agrdecer ao:
nosso diretor Cristiano Meireles por nos conduzir com tamanha entrega e cuidado ao ponto de nos fazer acreditar que éramos nós que tomávamos parte de um projeto seu; aos anjos João e Henrique da Goma Oficina que iluminaram nosso caminho com tanta criatividade; ao Eder e a Sandra que nos vestiram lindamente de tantos corpos imaginários; ao Beto, Léo, Bachur, Edu, Fê, Zézinho Pitoco e Cris, músicos maravilhosos, por produzir em bom som o que nossos corpos desejavam falar; a Sílvia Machado por ter captado com tanta sensibilidade as imagens desse novo trajeto.
A Última Estrada não poderia fugir à brincadeira, em algum lugar é a última, mas tantas vezes aqui já citada mostra, não a contradição de um nome, mas sim a infinitude de um desejo. Chegamos agora nessa estrada, fascinante como uma primeira e preciosa como a última.

UFA!


Foi em 2008 que decidimos juntar as amizades, as vontades, os desejos... e criamos a Companhia SOMA! Desde lá tantas coisas nos aconteceram que ouvimos de muitas pessoas que nascemos com as nossas bundas viradas pra lua. E a gente sempre acreditou nisso. Mas de uns tempos pra cá percebemos  que o segredo na verdade é que temos muitas luas a nossa volta, o que significa que todo o tempo teremos alguma das bundas viradas pra alguma dessas luas!

Somos extremamente gratas à todos que acreditaram em mais uma de nossas loucuras e, mais do que isso, que toparam fazer essas junto com a gente!

O que nos resta agora é botar esses glúteos pra trabalhar! Vem aí nosso novo espetáculo "A Última Estrada".

PROJETO CATARSE




VAMO QUE VAMO!!!


APÓS NOSSO PASSEIO PELO MUNDO DECIDIMOS MONTAR UM NOVO ESPETÁCULO.

APÓS NOSSO PASSEIO PELOS MECANISMOS OFICIAIS DE FINANCIAMENTO DECIDIMOS RECORRER ÀS PESSOAS DO MUNDO!

ASSIM SURGIU O PROJETO DO CATARSE, POR ELE CADA AMIGO, FAMÍLIA, FÃ, OU TRANSEUNTE AJUDARÁ  ESSE ESPETÁCULO ACONTECER.

AQUELE ESQUEMA, CADA UM DÁ O QUE PODE, UM POUQUINHO, UM POUCÃO E TUDO FICA BÃO!

COLABOREM COM A DIVULGAÇÃO, ENVIE A TODAS AS PESSOAS DO MUNDO!!!