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NOVO PROJETO


PROJETO DE CRIAÇÃO DO NOVO ESPETÁCULO DA CIA SOMA

Este projeto na íntegra, como descrito abaixo, tem um orçamento total de 80 mil.
O valor de 60 mil é referente só a produção do espetáculo.

OBJETIVOS

Este projeto tem como objetivos:

-montagem e estreia do novo espetáculo da Cia Soma;

-contribuir para a democratização do acesso à cultura, com o espetáculo sendo apresentado apenas em regiões periféricas;

-contribuir para a difusão das danças  tradicionais brasileiras;

-estimular o envolvimento dos artistas e da comunidade locais, em todos os espaços de apresentação do espetáculo;

-envolver o público no processo criativo de desenvolvimento de um espetáculo;

-promover um intercâmbio de ideias e experiências com outros artistas da dança (e das artes cênicas);

-compartilhar publicamente o processo de criação do espetáculo e a metodologia de trabalho corporal da Cia Soma.



DESCRIÇÃO

O projeto é composto por cinco ações:

1) Montagem do novo espetáculo da Cia Soma

O ponto de partida para a criação do quarto espetáculo da Cia Soma nasceu durante uma pesquisa realizada pelas suas integrantes na Europa e na Índia, no ano de 2012. O propósito da viagem foi investigar a atual cena contemporânea da dança (e também do teatro e do circo) nesses países, por meio de contato com diversos artistas, participações em workshops e observação de diferentes obras e espetáculos. Além disso, o grupo apresentou sua pesquisa corporal, apresentando espetáculos e oficinas.

Durante a viagem, em exercícios de improvisação experimentados com outros artistas em diferentes ocasiões, a Cia Soma usava como base duas figuras - uma masculina e outra feminina - inspiradas em personagens do Cavalo Marinho (manifestação popular presente no nordeste do Brasil). Isso sugeriu para as integrantes do grupo um arquétipo com movimentações características, que não somente direciona os movimentos, mas também as atitudes dessas personagens e uma certa "psicologia" de cada uma. Como se tratam de arquétipos universais, diferentes trabalhos que foram assistidos durante essa temporada no exterior- como os espetáculos do Odin Teatret na Dinamarca, as cenas de Kathakali na Índia e os números de circo na Itália - serviam de referência para a composição dessas figuras. No decorrer da viagem, a Cia Soma passou a experimentar a interação entre as duas personagens, e sobre essa base é que a nova obra será construída.

Esse novo espetáculo representa um desenvolvimento no trabalho da Cia Soma. Seus três espetáculos anteriores são formados por coreografias e cenas desvinculadas umas das outras, cuja elaboração conduziu uma pesquisa técnica com a dança e levou à busca de uma linguagem corporal baseada nas manifestações da cultura popular brasileira. Atualmente, após quatro anos desse processo de criação e pesquisa, foi possível para a Cia pensar na criação cênica de uma nova maneira, em que o foco maior não reside mais na estética corporal ou na pesquisa corporal (embora esta pesquisa ainda não tenha se esgotado), mas sim no que pode ser expressado tendo essa estética como ferramenta.

Durante o processo de criação do espetáculo, serão convidados dois artistas da dança (que serão definidos posteriormente) que vêm trabalhando a intersecção com as linguagens cênicas do teatro e circo. Isso vem ao encontro de um desejo antigo da Cia Soma, de pesquisar as possíveis formas de diálogo entre as linguagens da dança, do teatro e do circo, e como isso pode ser processado na construção cênica. Um desejo que a passagem recente por outros países consolidou, já que as experiências de trabalho e intercâmbios com outros artistas ofereceram novas possibilidades de caminhos para a criação, além de ampliar o vocabulário corporal das bailarinas para outras linguagens cênicas.


2) Apresentação de cenas do espetáculo

Durante o processo de criação do espetáculo, as bailarinas da Cia Soma, acompanhadas pelo diretor, irão apresentar cenas ainda não finalizadas em cinco espaços: Associação Cultural Monte Azul, EMEF Desembargador Amorim Lima, Oca- Associação da Aldeia de Carapicuíba, Instituto Alana e Projeto Âncora.  

Em cada espaço será apresentada uma cena específica, que será inserida dentro da programação do local. Ao fim de cada apresentação, haverá um breve bate-papo com o público que, conforme o espaço, será composto por crianças, jovens e adultos, entre eles estudantes de artes e educadores. 

A ideia dessa ação é envolver o público no processo de criação da obra, e torná-los também co-autores, na medida em que as reações e impressões sobre as cenas mostradas serão integradas ao processo de desenvolvimento do espetáculo.

3) Realização de duas apresentações de demonstração do processo criativo

Destinadas a artistas e pesquisadores da área da dança, essas apresentações irão demonstrar o trabalho técnico da Cia Soma com as danças brasileiras, e o processo de construção cênica. Participarão as integrantes do grupo e o diretor do novo espetáculo. Após as demonstrações, haverá um bate-papo com o público presente. As apresentações ocorrerão no Instituto Brincante, onde a Cia Soma realiza seus ensaios. 

4) Realização de dez apresentações do espetáculo, seguidas de uma confraternização com o público.

As apresentações - todas com entrada franca - ocorrerão em teatros e espaços localizados na região periférica da cidade de São Paulo, em locais como CEUs, ONGs, escolas públicas e/ou associações. 

Após as apresentações, haverá uma confraternização com o público. Essa ação abrirá espaço para que, de modo mais próximo e informal do que num bate-papo, possa ocorrer uma troca de impressões e curiosidades sobre o espetáculo assistido, entre as artistas e o público.

A ideia dessa confraternização nasce da vivência da Cia Soma com os ritmos brasileiros, e em decorrência, com uma festividade tradicional do país bastante peculiar e ainda raramente vivenciada pela população periférica da ciadde de São Paulo. Como os espaços de apresentação serão locais onde as integrantes do grupo já realizaram algum tipo de atividade - e que portanto já possuem algum grau de familiaridade com os ritmos tradicionais brasileiros trabalhados pela Cia Soma - essa festa final torna-se um espaço para que o público frequentador desses locais experimente as características que esses ritmos têm em sua forma de origem: a descontração, a brincadeira e a relação entre os participantes da festa. 

A forma exata com que a confraternização irá ser organizada será combinada com cada espaço de apresentação. A ideia é convidar e estimular a participação dos artistas e da comunidade locais, que podem desde tocar músicas até levarem pratos cozinhados por eles.  

5) Produção de material de registro do processo de criação do espetáculo 

Todo o processo de criação da nova obra será acompanhado por uma pessoa que fará registros escritos e audio-visuais que resultarão em um "caderno", que conteria ainda textos técnicos sobre a metodologia de trabalho corporal da Cia Soma e textos das integrantes do grupo e de outras pessoas da equipe. Essa pessoa, a ser definida posteriormente, deverá ser um jovem estudante da área da dança.

Esse material será devidamente diagramado e revisado, e distribuído em dois formatos: impresso, para os espaços onde ocorrerem as apresentações, e digital, que será disponibilizado no site da Cia Soma para download gratuito.

PLANO ESTRATÉGICO E CRONOGRAMA

Os três primeiros meses serão dedicados aos ensaios preparatórios. Durante essa etapa, a Cia Soma terá aulas de:

-preparação corporal: trabalho de resistência e condicionamento físico atrelado às necessidades da linguagem corporal desenvolvida pela Cia Soma;

-alinhamento postural: trabalho com o balé clássico como base para o alinhamento do corpo;

-estado de prontidão: um dos principais alicerces do trabalho corporal da companhia. As manifestações populares, também conhecidas como brincadeiras, explicitam em seu nome a existência de um equilíbrio entre limites e liberdade de criação, capaz de provocar no brincante um estado corporal de permanente prontidão. A partir de exercícios de improvisação, são estabelecidas regras que conduzem um trabalho de modulação de energia.

Durante todo o projeto, os ensaios ocorrerão de 2a a 6a, com quatro horas diárias.  Também nessa etapa, haverá a participação dos dois artistas da dança convidados (que serão definidos no início de execução do projeto).

No terceiro mês, haverá a apresentação das cenas curtas, assim como os dois ensaios abertos.

Durante os três primeiros meses, serão feitos os contatos com os espaços culturais, para reserva de pauta e fechamento dos locais de apresentação dos espetáculos. 

O quarto e quinto meses serão dedicados aos ensaios de criação e ao desenvolvimento dos projetos de luz, cenografia, figurinos e trilha sonora. Nesses meses, os flyers e cartazes de divulgação serão distribuídos, e serão definidas as estratégias de comunicação para cada local de apresentação, em conjunto com a equipe desses locais.

Durante todos esse meses, o processo de criação e produção do espetáculo será acompanhado por um estudante da área de dança (a ser definido no início de execução do projeto), que fará o registro do mesmo, por meio de textos, fotos e vídeos. 

No último mês, serão realizadas as 10 apresentações (que ocorrerão também em dias de semana), e o material resultante do acompanhamento do processo de criação será transformado num "caderno", que então será distribuído para os locais de apresentação e disponibilizado para download gratuito no site da Cia Soma.




NATAL




 Após os últimos intensos meses de viagem chegamos no Brasil sem tempo para perder o pique. Entre apresentações, ensaios, novos projetos e parcerias o ano vem chegando ao fim. Para nós um novo começo, uma fase que revela não só uma intensa experiência como seus frutos: os desejos provocados por ela.
Nesse período de correria, presentes, fechamentos e papais noeis aproveitamos para aumentar o volume da música e dançar batendo com firmeza os pés em nosso ritmo, esse que mais do que em qualquer parte do ano nos deve máxima escuta. Momento de transformação, de morte e renascimento. Seja fim dos tempos, do mundo, do ano, de um ciclo; seja dançando, escrevendo, discutindo e desejando o novo é latente e vem se revelando em diferentes projetos, vontades e metas.

Que em nossos próximos posts venham as novidades com as quais em segredo ambicionamos! Por hora desejamos a todos que batam com força seus trupés e que num passo de mergulhão adentrem com força nessas novas águas! 

BRASIL!


Um pulo no Brasil, ou melhor, alguns pulos, saltos, trupés e piruetas. 
Muita agilidade para dar conta de tudo em tão pouco tempo: ensaiar para as filmagens, encaminhar projetos para editais, fazer os últimos preparos para o próximo destino e encontrar tanta gente querida. 

A casa de repente virou uma passagem, como passamos por tantos outros lugares. Mas uma passagem em casa. Um lugar que ainda chamamos assim, que nos acolhe e que nos recebe de braços abertos. Foi bom rever e ver um pouco mais de longe - mesmo que ainda muito perto - o lugar de onde partimos. E assim começar a vislumbrar devagar as tantas mudanças que se passaram nesse ano.

Foram breves 10 dias. Intensos de Brasil. Para assim, como de todos os lugares por onde passamos, levarmos pessoas, experiências, questionamentos, vontades e encantos.

E por fim a companhia encerra também sua participação em um projeto tão exigente e especial que foi a filmagem do longa metragem Brincante, com direção de Walter Carvalho. Experiência que trouxe para nós o cuidado com a dança, com o olhar, com as intenções, com o mínimo. O pouco que pode ser muito.

E do pouco que já conseguimos enxergar de tudo que foi e do que ainda está por vir, almejamos mais. Mudanças que nos instigam a criar. E assim mais um projeto surge! Agora só pro ano que chega….

FESTIM. Merci Paris!



De volta a Paris!
Nossa primeira casa, com pessoas tão queridas!

Encerramos nossa última noite dessa primeira longa jornada da SOMA pela Europa com Festim. Com a nossa festa para todas essas pessoas tão especiais.

O espectáculo foi recebido pela Maison Du Bresil, um pequeno teatro dentro da Cité  Universitaire. E das poucas pessoas que esperavam pelo início da apresentação poucos minutos antes de abrirem as portas, somaram-se, multiplicaram-se e de repente não se tinha mais lugar para sentar.

Do palco víamos gente de quase todos os cantos por onde passamos… França, Espanha, Dinamarca, Italia! E da platéia nos fizeram agradecer a la europeia…voltando três vezes.

Foi um imenso prazer e uma emoção indescritível fechar esse ciclo de aprendizagens e experiências retornando ao nosso primeiro espectáculo enquanto companhia. Deu muito o que pensar… o que construímos… o que almejamos…

Agradecemos muito a essas mulheres maravilhosas que nos foram tão, tão, tão…..! Fernanda Vilela, Anais de Latre, Flavia Tavares e Elena Budu!
E é claro a Maison du Bresil!

Uma noite de despedidas dadas com um "até já".

UM TEATRO DO CORPO, ODIN


Holstebro, uma pequena cidade da Dinamarca, o mais norte que chegaremos nessa viagem. Daquelas cidades onde não se tem nada para fazer. Ótimas para um intensivo de trabalho e estudos.
Ali encontramos o Odin Teatret. Um grupo que logo completará seus 50 anos de existência. Fundado e dirigido por Eugenio Barba.

Durante 10 dias que correram como nunca, tivemos palestras, demonstrações de trabalhos, atividades corporais, conversas com Eugenio e apresentações. Eram dias que duravam das oito da manhã às dez da noite, com alguns intervalos para almoço, jantar e limpeza. Sim, no Odin todos fazem um pouco de tudo. Se exige um cuidado com o espaço condizente com o acolhimento que ele nos dá, um acolhimento de casa. 

Dentro dessa casa encontramos pessoas de uma generosidade que em poucos lugares experimentamos. São 50 anos de Odin que os atores nos dão de coração aberto. São 50 anos de desenvolvimento de um conhecimento e de um caminho para a construção do corpo do ator que nos são passados de maneira teórica e prática sem restrições a perguntas. São 50 anos de pesquisa em livros, vídeos e documentos a nossa completa disposição.
É verdade que o tempo para a prática não é muito, e nem é perto do que gostaríamos, mas levando em consideração a quantidade de conhecimento que eles almejam nos passar, seriam necessários alguns anos de treinamento para compreender tudo fisicamente. Assim como seriam necessários muitos textos para dizer tudo o que experenciamos nesse teatro.


* * *


Dentre tantas tradições que o Odin Teatret costuma manter, uma que impressiona é a reapresentação de peças que foram encenadas há muitos anos. O repertório é mantido por anos e anos sem que a produção de novos trabalhos se encerrem. Assim como é o caso da peça mais recente "Vida Crônica" com a qual abriram esses dias de festival. Tal feito dá muito o que pensar… como manter a vivacidade de uma mesma peça quando encenada por mais de 30 anos? como se reinventar dentro de uma mesma estrutura? como passar com uma mesma peça por gerações e gerações? como envelhecer com o mesmo personagem de 20 anos atrás? como continuar inovando e se surpreendendo?

Todas perguntas que nem sempre nos foram respondidas, nem na teoria nem na prática. Mas claramente todas as respostas estão longe da forma, do texto, da coreográfia ou partitura corporal do ator e sim próximas da energia e da sinceridade com que se trabalha com o corpo e seus limites ao longo dos anos. Isso nos remete à uma passagem do Do Papo ao Passo na qual dizemos que 
as brincadeiras populares são mais do que uma referência de formas, passos, estética. Elas são também um momento de suspensão e reconfiguração de um cotidiano que nos é habitual…isso parece simples mas exige uma aproximação intensa com o que se tem fora e um reconhecimento grande do que se tem dentro, no corpo.

Respondendo ou não aos questionamentos gerados exatamente pela exposição que os atores do Odin se colocam ao nos apresentar as mesmas peças, fato é que eles desenvolveram um caminho valioso e ainda hoje referência para tantas pessoas que pensam a atuação como algo que está para além do texto, como algo que leva em consideração o corpo, a voz as sensações que isso causa no público. Uma atuação que considera o espectador antes do ator. 

E a vida do Odin aparece nesses momentos em que durante dez dias pessoas de tantas gerações, diferentes profissões e dos quatro cantos do mundo optam por vir a Holstebro, uma pequena cidade no norte da Dinamarca onde não se tem nada a fazer e se encontra um mundo. Odin. 


BARCELONA






Para os Catalães a capital de uma comunidade autônoma que deveria controlar sua própria economia.
Para os místicos parte da região do chakra coração do mundo, cidade
transmutadora de energia.
Para os turistas a cidade das curvas de Gaudí, das ousadias de Dalí, dos passeios
pelas Ramblas.
Para nós uma cidade onde sua força catalã nos oferecia condições para
desenvolvermos nosso próprio trabalho, que entre o mar e a montanha nos
conduzia pelos fluxos das transformações, que sob modernistas e monumentos nos instigava a criar a nossa própria paisagem.

Um momento de descobertas, a Cia cresceu não por levar seu nome ao público por meio de apresentações e aulas mas sim pela experiência com uma nova técnica, em quatro semanas de teatro físico nos introduzimos a pedagogia de Jaques Lecoq. Pessoas incríveis, estudantes, diretores, amigos e mestres. A estrutura de um método, tempo, precisão, jogo e palavra. A fala ofereceu novo movimento ao corpo, o corpo ganhou uma nova voz. Num país latino não era só pelas palavras que nos identificávamos, mas foi através delas que nos aproximamos  de uma nova cultura e  maneira de dialogar.
Incorporamos em nossa pesquisa a busca pela palavra que surge do movimento. E surge então novamente a comunicacão com nosso país. Que palavras seriam essas de nosso corpo híbrido que une passos do Valentão do Cavalo Marinho, ao do capoeirista mandingueiro e do astuto passista de frevo? 
Há em nós um sentimento mutuo de indignação e instigação ao nos dar conta de quantas  técnicas, métodos e pedagogias poderiam ser desenvolvidas a partir do que temos de tão particular e pouco explorado em nosso país. Por que se escuta tanto de Commedia dell' Arte e não se fala nada de Cavalo Marinho nas escolas de teatro tão aplaudidas do nosso Brasil? 

Cada contato com uma técnica bem elaborada da Europa nos relembra carências e anseios de nossa cultura, quem sabe o ímpeto de independência catalã nos inspire a desejar o que é nosso, quem sabe o chakra coração do mundo pulse tão forte que reverbere nosso anseio pelos trupés de Cavalo Marinho, quem sabe os tantos turistas que das Ramblas se vão ao nosso terrero de Maracatu nos faça apreciar o nosso solo.

Quem sabe quanto ainda é necessário que se grite um Brasil que por hora é delicadamente sussurrado a cada um que se aproxima com interesse desse universo...

A DANÇA POR UM FIO


A DANÇA POR UM FIO

Um estúdio com arquibancada, refletores, caixa de som e cortinas. Em uma escola com criações, frustações, regras e descobertas. Em uma cidade com rainha, business, parques e nuvens (muitas nuvens). Em um mundo que vem se mostrando cada vez maior e menos distante, assustador e atraente, imperfeito e completo.
            As 18h30 de uma terça-feira demos então início a nossa apresentação no Trinity Laban Conservatoire of Music and Dance. Não saberíamos dizer quem eram os espectadores daquela situação. Para nós estar ali envoltas por aquela arquitetura, sob aqueles sorrisos era um espetáculo. Confessamos que nosso show no entanto não foi dos mais glamorosos, porem nos demos o luxo de compreender isso bem pois um pouco antes da apresentação o luxo que nos demos foi passar quatro horas no cabelereiro! Sim, as três maricotas: Tita, Ma e Flora foram fazer os news hairs na escola de um conhecido cabelereiro londrino. Nós éramos cobaias de uma turma de animadas japonesas que iam passo a passo, tradução por tradução, centímetro por centímetro (verdade) cortando nossos cabelinhos... pois é... e pensando bem nem tão luxo assim... mas de graça até cabelo na testa!
            No entanto adoramos as duas experiência e como normalmente acontece, a melhor parte do trabalho se realiza no final, no caso o novo visual, no caso a conversa ao fim do espetáculo com o grupo de jovens que nos assistiu. Embora fosse “Do Papo ao Passo” em inglês e para pessoas que de outro continente desconheciam todo aquele universo os comentários não eram distantes do que costumamos ouvir. A lembrança de que a brincadeira é parte intrínseca da dança parece repercutir em qualquer parte do mundo, a vontade de beleza não está só nos índios como diz nosso querido Darcy Ribeiro, a necessidade da poesia, da harmonia é condição humana.  Num tempo onde a atitude mental predomina à aparência da obra, onde o ritmo e melodia perdem espaço para concepção e conceito temos urgência de lembrar que nossas antigas raízes nos dão referência para uma nova arte. Distantes do Brasil admiramos mais ainda o nosso povo brincante, seu legado de possibilidades criativas, pluralidade estética e da beleza das cores desbotadas que daqui são dissipadas pelas luzes de neom. É sempre hora de deixar pra trás os velhos fios de cabelos que nos prendem a quem já não somos mais e fazer o mais belo penteado com os novos fios que brotam daquela mesma raiz. Seguiremos com nossa viagem de novos penteados mas com a mesma cabeça, que não nos deixa esquecer que enquanto brincarmos com a dança pelo menos carecas não ficaremos!

LONDRES - Laban


Em 1879 nasce Rudolf Laban. 
Dançarino, coreógrafo e teórico do movimento, Laban foi um dos fundadores da dança moderna europeia. E até hoje, em Greenwich, uma universidade de dança com o seu nome. Estudante de arquitetura que foi, o que lhe rendeu estudos profundos do movimento em relação ao espaço, nada mais lógico do que a Trinity Laban ser baseada num prédio pensado para o movimento. Luz, cores, espaços.
Tudo isso constrói uma imagem para o resto do mundo que quer queira quer não faz desse lugar e desse nome uma espécie de mito, daqueles que cada um cria na sua cabeça o que imagina ser.


Durante esse último mês convivemos intensamente com dançarinas estudantes da Laban, o que nos rendeu, além de apresentações, acesso ao interior do prédio, possibilidade de ver algumas aulas, trabalhos de conclusão de curso, sem contar as inúmeras conversas sobre a dança.  À elas somos imensamente gratas, Flora, Sivan, Masa e Cony! Nossa família londrina sem nenhuma inglesa.

De tudo isso notamos o quão difícil é construir uma instituição de ensino para a dança. Que aulas ter, que questões exigir, que limites burocráticos concordar, enfim… O primeiro susto que levamos foi saber que não se tem aula de "Laban", como se costuma achar facilmente no Brasil. Aqui se tem um ou dois semestres de "Choreological Studies" e o resto são as indicações de Laban aplicadas em técnicas como Balé, Graham, Cunningham, Contato improvisação e Release. Afinal Laban dizia que não tinha nenhum método e não desejava ser apresentado como tal.

Aos poucos fomos ouvindo os prós e contras e passamos do amor ao ódio e do ódio à admiração. Contando todos os contras, por muitos que sejam, a Laban continua sendo uma universidade de dança inspiradora no sentido da estrutura, do espaço, dos profissionais que ali estão e das oportunidades de desenvolvimento pessoal. Uma admiração também por sabermos que no Brasil ainda não temos algo parecido com isso e que essa inspiração pode nos levar não à uma reprodução do mesmo padrão, mas à criação de algo que seja tão representativo para nós, como hoje é a Laban para a dança contemporânea na Europa.

                      

LONDRES - Homenagem a loucura

Num lindo domingo estávamos nós na London School of Samba para ensinar um tal de frevo e caboclinho.

Quando entramos na sala ensolarada tinha já e apenas um homem. Pronto. E logo nos alertaram que ele era o "louquinho" da escola.

Do início ao fim ele foi o primeiro da fila, dançando mais do que todos, até não poder mais. Pegava os passos muito rápido e dançava do seu jeito, bem particular. Chegou até a nos remeter a um autêntico passista de frevo, desses que a barriga e a pele corada chegam antes que a dança; que a flacidez e a inabilidade nao impedem de dançar com a sua particularidade extravagante!

E foi assim… no fim da aula ele veio conversar, e falava coisas tão inesperadas que uma de nós chegou a achar que não estava entendendo direito o inglês. Então ele repetiu tudo em espanhol. 

Disse que aprendia os passos das danças mas quando ia procurá-las no youtube percebia que era tudo muito diferente, porque nos vídeos ele via que cada um fazia aquele suposto passo de maneiras muito particulares e consequentemente diferentes, e que ele chegava a ter dificuldade de identificar os passos. E que além disso ele percebia que era possível pegar um passo de um certo ritmo e usá-lo em outros ritmos, sempre adequando-os as novas bases musicais.

E com tudo isso ele percebia o quanto era difícil fazer essas coisas que ele via nos vídeos. Que era preciso ser um profissional para conseguir. Mas que era exactamente isso que ele gostava!

Sim! E na rápida e simples explanação ele sem querer ou querendo falou do nosso trabalho.

E terminou cantando em portugues um pedaço de um samba que dizia que a dança era seu vício, a dança era a sua filosofia.

Quem dera se fossemos todos loucos! 



London London


Após três semanas de solidão, desespero, incompletude por ficarem as Más Sós, voltamos a ser SóMa, together!!
Nunca imaginamos que poucas semanas nos renderiam tantas “conversas de cobertor” - aquelas em que ficamos até tarde na cama dissecando o mundo, compreendendo e reinventando-o em nossas cabeças. Não imaginávamos que um “curto” espaço de tempo  poderia significar tantas novidades com tantas experiências diferentes.

Agora em London seguimos fazendo aulas, dando workshops, nos apresentando, sempre dançando...

Mais de um mês se passou e com tantas novas experiências sentimos já estarmos há muito longe do Brasil, essa distância no entanto a cada vez que aumenta   simultaneamente nos aproxima de nosso tão amado país. 

MATÉRIA - Revista de Dança

Para quem quer saber um pouco mais sobre a Cia e o tour Europa...
Cia Soma na Revista de Dança!











RETRATO
Redigida em: 07/05/2012

Dos brincantes para o mundo

Foto: Silvia Machado/Companhia Soma
1
A companhia Soma foi criada por Marina Adib e Maria Eugenia Almeida, respectivamente filha e nora de Antonio Nóbrega
Foto: Silvia Machado/Companhia Soma
2
A dupla costuma dizer que veio por caminhos diferentes, mas se encontrou num ponto comum
 
Por Ana K. Rodrigues
Donas de uma linguagem que une as tradições culturais brasileiras a técnicas clássicas e ao circo, a Companhia Soma faz sua primeira turnê internacional 

A parceria entre Marina Adib e Maria Eugenia Almeida está cada vez mais forte. Em paralelo ao trabalho que ambas desenvolvem nos espetáculos do multiartista e especialista em cultura popular Antonio Nóbrega, pai de Maria Eugênia e sogro de Marina, a dupla montou sua própria companhia. A Soma vem dando continuidade a uma pesquisa que une técnicas clássicas, circenses e de danças tradicionais brasileiras, como o batuque da umbigada, mergulhão e o cavalo-marinho. As bailarinas estão em sua primeira turnê internacional e passarão sete meses entre aulas e festivais por seis países europeus.

A dupla costuma dizer que veio por caminhos diferentes, mas se encontrou num ponto comum. Maria Eugenia começou a dançar aos sete anos, acompanhando seus pais nas viagens de pesquisa pelo Brasil. Aos 18 passou a frequentar aulas de balé, consciência corporal e danças étnicas. O início de Marina foi por meio do balé, aos seis anos, seguido pela ginástica olímpica, à qual se dedicou até os treze. Depois desse período passou a ter aulas de danças populares
no Instituto Brincante, centro cultural de Nóbrega, em São Paulo. Ali se conheceram e começaram uma grandeamizade, que daria origem a uma rica troca criativa. 

O trabalho que ambas desenvolviam nos espetáculos de Antonio Nóbrega deu impulso para desenvolverem suas próprias criações e elaborar um repertório próprio com a Soma. Uma mostra desse processo está no espetáculo Mira, de 2009, que ganhou o Prêmio Funarte de Dança Klauss Vianna e foi um ponto de partida para o tipo de projeto que Marina e Maria Eugênia pretendem continuar criando. "A palavra "mira" traduz exatamente isso: é um alvo, uma intenção, um ponto de referência no qual se deseja chegar, e ao mesmo tempo em tupi significa povo, nação. Um chão para nós", explica Marina.

A turnê europeia começou no início de abril no Festival de Forró de Paris, onde se apresentaram e ministraram um workshop de danças brasileiras. Em meio a alunos de diversas partes do mundo, as bailarinas se surpreenderam com a receptividade e em reconhecer que existe um caráter universal unindo as mais diversas artes populares. "Surpreendeu-nos muito chegar à Europa e ver o quanto as pessoas podem se identificar com essas danças. Uma das meninas que fez a nossa oficina se espantou quando ouviu a música do cavalo-marinho,
porque disse que se parecia muito com uma manifestação da sua cidade, no sul da França. Assim como outra mulher nos mostrou alguns passos de uma das danças das Antilhas que era igual aos do caboclinho", revelam.

O grande desafio da Soma é tornar conhecidas essas tradições, seja na Europa ou mesmo no Brasil, onde ainda poucas pessoas já tiveram contato com algumas das manifestações que fazem parte do repertório da companhia. Ao mesmo tempo, ambas desejam conhecer elementos que acrescentem novas texturas a seu trabalho autoral. "Esperamos ter contato com técnicas que quando chegam ao Brasil já vêm como uma releitura. Gostaríamos de fazer a nossa. De entrar em contato com formas diferentes e ver o quanto isso pode dialogar com a nossa metodologia", refletem.

Maria Eugênia e Marina ficarão no continente europeu até o final de outubro. Entre abril e julho permanecerão entre Paris e Londres, onde darão cursos e farão apresentações. Depois disso seguem para os festivais de verão entre Espanha, Áustria, Dinamarca e Alemanha. Voltam para Paris em setembro, onde se apresentarão na Maison du Brésil. Na volta, pretendem unir os novos conhecimentos por meio de oficinas de dança e pela criação de um novo espetáculo da Soma.
 
Foto: Silvia Machado/Companhia Soma
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O trabalho que a dupla desenvolvia nos espetáculos de  Nóbrega fez com que elas desenvolvessem as próprias criações


http://www.revistadedanca.com.br/retrato.php?id=12
Foto: Silvia Machado/Companhia Soma
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A turnê europeia começou no início de abril no Festival de Forró de Paris





PARIS - Fotos

Agora sim podemos compartilhar com vocês fotos profissionais do Festival de Forro! Na verdade, por enquanto  para quem tem Facebook, mas como os dados dizem que hoje chegam a 900 milhões o número de usuários, talvez isso não seja um grande problema.


Obrigada Thiago e Marion pela acolhida! E parabéns pela iniciativa do festival!
Obrigada Fernanda por nos ter colocado em contato com todo esse povo!
E obrigada Xavier pelas fotos!!!


http://www.facebook.com/pages/Ai-Que-Bom-Festival-Forró-de-Paris/266699950026605?sk=photos





PARIS - Frevo

Mais um dia de aula.
No Micadanses.
Entre passos, pausas, saltos e demonstrações o frevo fez o pessoal suar no frio dessa manhã.
E realmente...o frevo e assusta quando se vê pela primeira vez e encanta quando deixa de assustar.





PARIS - UNESCO

Noite do dia 25.
Graças a nossa querida Fernanda fomos ao evento 30ème anniversaire de la journée internationale de la danse 2012, na sede da UNESCO em Paris.
Uma noite de discursos, vídeos e principalmente danças! Homenageando o dançarino e coreógrafo Sidi Larbi Cherkaoui. Com cenas maravilhosas de diferentes trabalhos ele impressionou! Pra quem não conhece vale a pena procurar conhecer!

PARIS - Agradecimentos

A experiência em dar aulas em Paris nos afirmou mais uma vez a riqueza que as brincadeiras populares podem nos oferecer. E nos afirmou também que a metodologia de trabalho que vínhamos experimentando até agora propõem uma didática que pode ser aplicada em diversos contextos mundo a fora.
Sendo assim, nesse momento de felicidade e realizações nossa vontade é de agradecer aqueles que sem eles nada disso teria sido feito...

Antonio Nobrega, Rosane Almeida, Cia Mundo Rodá, Zelia Monteiro, Cia Lume Teatro, Tadashi Endo, Neide Neves, Beth Bastos, Milton Kened, Leticia Doretto, Paulinho 7 Flechas, Pedrinho Salustiano. 

Esperamos poder dividir isso com o mundo inteiro!!!






PARIS - Festival de forró


Quem diria um festival de forró.
Quem diria um festival de forró em Paris.
Quem diria um festival de forró em Paris com mais de duzentas pessoas de toda a Europa.
Quem diria.
E foi uma experiência incrível! Um bando de forrozeiros dançando Batuque de Umbigada, Caboclinho e Cavalo Marinho!  
E os encontros não foram só na dança a dois, nas umbigadas e nos mergulhões… em todos esses dias estivemos com pessoas incríveis que fizeram de Paris chez SOMA!

Fernanda que começou como nossa produtora hoje já é amiga, guia de Paris, fotógrafa e mãezinha, mesmo com a pouca idade!
Anaís dançarina nos mostrou um novo olhar sobre o Brasil e rapidamente nos acolheu tão bem e nos deu trabalho para todas as próximas visitas à Paris!

Obrigada!






PARIS - Início dos trabalhos

Amanhã começam os trabalhos!
Com apresentação e oficinas!!!

http://www.leptitbalperdu.com/festival/en/programme/


EUROPA

Durante os próximos sete meses usaremos esse espaço para contar das experiências, apresentações, aulas, escolas, teatros, comidas e perrengues dessa longa temporada pela Europa!